21/11/2010

Além do Visível

Somos puxa-saco mesmo! Se não prestigiarmos irmão (Fred), quem o fará? Olha que máximo o vídeo de apresentação do livro dele "Além do Visível" - produto apresentado ao Curso de Comunicação Social, da UnB, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda.

As fotografias foram obtidas em Brasília através de uma câmera DSLR modificada para captar o espectro infravermelho da luz.





Agora, quem tiver um tempinho e souber valorizar um texto bom, veja o prefácio do livro do Fred, escrito por Ciro Giovenazzi Lobo:

"Os olhos não repensam o mundo, são incapazes em sua própria limitação de ser. Nem mesmo a linguagem é capaz de dizer tudo. “O que não se entende a tempo ainda é tempo”. O que não está em luz ainda é luz. O mundo continua mundo quando fechamos os olhos para dormir, não desaparece em vapor de cochilos ou recobra nitidez ao som de cacarejadas. Muito dele ainda nos é secreto, sigiloso fruto, mistério enterrado sob toneladas de concreto e muros rompidos que nossa fraca carne de gente é incapaz de erguer. Uma cidade em silêncio continua cidade, uma cidade em silêncio é mais que cidade, é túmulo. Clandestina é nossa esperança no que está além do visível.

Dizem que o olho humano tem diâmetro antero-posterior de aproximadamente 24,15 milímetros, diâmetros horizontal e vertical ao nível do equador de aproximadamente 23,48 milímetros, circunferência ao equador de 75 milímetros, pesa 7,5 gramas e tem volume de 6,5cc. Se trata de uma sábia composição orgânica: os nervos que dividem espaços na exatidão de prédios, as células que realizam trocas harmonicas como numa escadaria de metal fundido. No entanto infinitos são os universos e vidas ignoradas nestes milímetros de régua ausentes, nos volumes não arquimedicionados de nosso globo-ocular, nos cantos não revelados pela perspectiva. Eis, portanto, a luta do homem, a eterna luta do homem: vivenciar aquilo que não lhe é permitido, enxergar onde a luz não bate, onde a pálpebra não estica. Desde a primeira história, a primeira aventura, a primeira religião, a primeira tecnologia o homem narra sua aversão pela nudez definitiva. Um mundo sem Deus não é mundo, um mundo sem aeronaves não é mundo, um mundo sem continentes não é mundo. Deste modo não posso deixar de considerar este projeto fotográfico um esforço espiritual similar; um novo mito da caverna de Platão. Um olhar que questiona as sombras.

Usando uma câmera modificada para captar o mais inferior espectro de luz possível, imperceptível ao olho humano, – o infravermelho - Fred Rocha Lima ousa desenterrar uma Brasília antes invisível, subterrânea & secreta. Desta mínima luz, arquejante e debilitada luz, é que somos transportados ao incomensurável paquiderme de sua arquitetura corbusiana. Como se guiados por Virgílios somos arrebatados pela miragem de suas muralhas com mais de mil braços, colunas e janelas recortadas por fumaças de espanto. Ali uma noite artificial se ergue sobre os arranha-céus branquíssimos, aqui velhas explosões de gás silenciam ainda mais a escuridão de mil tempestades das janelas. Por mais que aquelas paisagens e arcos já existissem anteriormente, que já fizessem parte de um cotidiano de cartas marcadas percebemos nesta novíssima e iluminada perspectiva algo de assustador e secreto. É a cidade que nos confidencia uma presença oculta, como num sonho ou pesadelo onde objetos inanimados ganham um aspecto absurdo de gente.

É neste jardim de tijolos e concreto que o fotografo aprende que toda descoberta é solitária. As novidades não podem ser vividas e compartilhadas ao mesmo tempo, são abandonos e reclusões de tudo que existia antes. Podem ser contadas, fabuladas, escritas, fotografadas mas nunca com a mesma potência ou vida. Por este motivo ele captura uma cidade de espectros e fantasmas, uma cidade totalmente vazia senão por este único olhar de ventania. Tendo apenas sua sensibilidade como enredo, Fred nos empresta seus olhos, seu astigmatismo, luz, câmera e alma para que possamos ver um minúsculo pedaço deste universo incognoscível. Em sua visão de mundo, o negro sangue urbano, movido a juros e prestações, desaparece. Nas páginas que seguem, Brasília se torna febril e imaginária; suas ruas e avenidas, palacetes e shopping-centeres não são mais morada de homens, habitações de homens ou refúgio de homens. Existe apenas um calabouço de paredes retas e simétricas que pulsam como se estivessem vivas, iluminadas como se portassem espíritos-santo. As construções de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer estão cheias de vozes, ainda que quietas como túmulos, revelando seus segredos e orações em miçangas de vidro. É incrível como o infravermelho - que está abaixo, aquém, enterrado por sob tudo aquilo que pode ser visto e não visto no espectro - possa nos revelar tanto da matéria fundamental daquilo que está além, muito além do visível."

Nada foi feito no photoshop... todo esse branco x preto é resultado do efeito da máquina.
E que texto sensacional não acharam? Nada como saber escrever bem...
É para dar orgulho, não?


2 comentários:

  1. Parabéns ao irmão de vocês!!!
    Tem razão vocês terem orgulho.
    As fotos ficaram muito legais!
    Nunca vi algo parecido.
    E que texto desse homem hein.
    Queria saber escrever assim hehehe

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  2. Que bom que você gostou, Ana Paula!
    Sempre mostrarei o trabalho dele por aqui...
    Beijos,
    Ana Luiza

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